Valeu a pena?

Santos Dumont estará perguntando a si mesmo: valeu a pena? Sim valeu a pena, como meio de transporte, mas não valeu a pena, ou até valeu demais, como arma de guerra e política.Se o Brasil fosse um Estado em que os seus representantes respondessem na Justiça pelos seus desatinos, e fossem postos para fora de seus cargos cada vez nos dessem prejuízo, essa compra dos aviões Rafale, mais caros e menos eficazes, não teria ocorrido. Agora, a Folha de S.Paulo, de 4 de fevereiro, noticia que ela se efetivou. E, a despeito do parecer contrário dos entendidos. Pretende-se que se trata de uma negociação política. Mas quando a política está acima dos interesses do pais, e de nós, que pagamos os impostos, ela é simplesmente deletéria. E não foi por falta de tempo, de avisos e de estudos. Há cerca de dez anos que se pensa em renovar a frota aérea do Brasil, para que a Aeronáutica possa bem nos servir e vigiar as nossas fronteiras. Dez anos depois, comete-se essa nova maracutaia. E ninguém a explica. Conta-se com o nosso esquecimento, ou com a nossa indiferença.
Um pais em que os seus governantes estão acima da lei e do bom senso, é um país das arábias. Das arábias de Ali Babá e dos quarenta ladrões, que esses não nos faltam.
Antes, a França exportava-nos cultura, as suas modistas e as suas cocotes, que vinham para a Rua do Ouvidor, na Corte. Era uma época mais aprazível, em que D. Pedro II visitava as escolas e estudava hebraico. Combatido, enxovalhado, nunca foi ele acusado de ter metido dinheiro no próprio bolso, e muito menos na cueca e nas meias. Também os varões da Primeira República timbravam em ser honestos. E até alguns mais recentes, como Café Filho, morreram pobres. Quem é que agora quer morrer pobre? O melhor é viver rico, com o dinheiro nos paraísos fiscais. E o negócio é viajar, ainda que seja nos Rafales.
Virão as eleições, e tudo continuará a mesma coisa.
Santos Dumont que se dane.

Anníbal Augusto Gama

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