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A publicidade

Acho que a estupidez publicitária tem causado a maioria das idiotices do mundo. Não apenas as idiotices, mas também a discórdia e a canalhice.
Antes, publicidade era propaganda, e a palavra refletia bem o de que tratava: tornava visíveis as propostas dos comerciantes e de outros. Hoje, publicidade quer aparentar uma isenção que não tem e que nunca teve, pretendendo que apenas põe a coisa à disposição do público. Mas não põe, quer fazer crer (e faz), que a coisa, ou o coisa, é a melhor.
Para isso, usa de recursos técnicos, psicológicos e outros, que a propaganda antes não tinha. Vale-se da mídia, e propaga-se em ondas sucessivas, até obnular a inteligência e a crítica de todos.
Para vender os seus produtos, não se tinha antes a não ser os pregões. O vendedor saía pelas ruas e, melodiosamente, cantava as virtudes do que trazia na cesta sobre a própria cabeça, ou numa carrocinha puxada por um burro. Por isso, as cidades eram melodiosas. Apregoava-se.
Atualmente, somos todos massacrados pela publicidade, e criou-se até a chamada “publicidade enganosa”, que é punida, como se toda publicidade, de algum modo, não fosse enganosa.
O lucro é inerente ao comércio. Ninguém abre a porta de uma loja para não vender e não lucrar. Mas admitia-se o debate entre o vendedor e o comprador, e havia a pechincha. Há quase sempre uma fraude tolerada, mas limitada, no mercado.
O que, porém, causa ainda mais espécie é a publicidade que se faz dos políticos. Eles, e os seus partidos, gastam rios de dinheiro para se sobrepujar uns aos outros, quando quase todos são os mesmos enganadores. Contratam empresas especializadas para os divulgar, e tais empresas não têm moral nenhuma: aceitam o que pagar mais.
De onde sai esse dinheiro? Sai das empresas e dos bancos, e até de empresas públicas que, naturalmente, exigirão o retorno. e com ganhos maiores.
Já não há o corpo a corpo dos candidatos, com o povo. Não há os comícios, nos quais eles podiam ser aparteados e vaiados. O sujeito é maquiado e bem penteado, para aparecer nas telas de televisão, com o seu sorriso torto. Se é careca, usa cabeleira postiça. As perguntas que lhes são feitas são previamente combinadas, e as repostas decoradas.
O que se gasta em publicidade é uma imoralidade.
Ninguém precisa ter talento, vocação, e passado limpo. Qualquer bandido pode eleger-se, e comumente são eles os favoritos.
Se isto é democracia representativa, limpo as mãos nas paredes. Que, aliás, já estão sujas de publicidade.

Anníbal Augusto Gama

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