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Genoveva vestida de vermelho

Era uma casa metida a granfina, eu passei pelo porteiro, que me abriu a porta, e fui entrando. Dentro, vi um pianista calvo, de camisa branca e gravatinha borboleta e, só para gozá-lo, eu lhe disse: “Toca outra vez, Sam”, e ele tocou. Então, ela saiu de trás de um reposteiro, vestida de vermelho, com uma piteira de um palmo entre os dedos. Quando se aproximou de mim, reconheci que era Genoveva, e fechei-lhe a passagem. Ela olhou para mim com as pálpebras dos olhos pintadas de azul batendo, e me disse: “O cavalheiro pode deixar-me passar?” “Não deixo não, Genoveva”, respondi. Então veio ao meu encontro, enquanto eu segurava o braço de Genoveva, um sujeito gordo, e armou um murro, para me atingir no queixo. Desviei-me, e meti o joelho com toda força entre as pernas dele, nos seus bagulhos. Uma mesa foi derrubada, copos e garrafas tiniram no chão, e outros caras vieram me pegar. Saquei minha arma e gritei: “Eu sou autoridade! Não brinquem com autoridade”, e disparei um tiro para o alto.
Aos recuos, com o revólver fumegante na mão, fui arrastando Genoveva. E tive ainda, lá fora, de empurrar o porteiro engalanado. Meu carro estava por ali, enfiei Genoveva dentro dele, e saí, os pneus cantando.
Ela perguntou-me:
― Você é mesmo autoridade?
Eu? Eu era bicheiro na Lapa, e ia progredindo.
Levei-a para o meu apartamento, e abri uma garrafa de uísque. Bebemos juntos.
Expliquei-lhe:
― Vim buscar você, e vou levá-la para a sua casa. Há muito tempo que ando atrás de você, e só hoje é que consegui saber onde você estava.
No dia seguinte, levei-a para a nossa cidadezinha natal. Na porta da casa de Dona Loló, eu disse:
― Dona Loló, aqui está a sua filha, inteirinha como saiu daqui.
Dona Loló não acreditou, nem eu acreditava, e tive de dizer-lhes:
― Se a senhora não acredita, eu provo, casando-me com ela.
― Quando? ― as duas quiseram saber.
― Dentro de alguns meses, preciso antes expandir os meus negócios.
Fui embora. Mas os meus negócios expandiram-se de fato, e tenho de voltar, para cumprir a minha promessa.

Anníbal Augusto Gama

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