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Besta de guerra que não acaba

Fazia quase três dias que ele e eu estávamos no mato, rastreando o inimigo, e a ração havia acabado. A fome apertava. Já havia pensado em retornar, quando avistamos um sujeito. Mas ele nos viu primeiro e, com um fuzil, procurou nos alvejar. Separamo-nos alguns metros um do outro, para que o cara não pudesse atirar ao mesmo tempo nos dois. E ele, que era mais esperto, avançou em ziguezague contra o sujeito e degolou-o com o podão. O cara deixou cair o fuzil, bambeou para frente e tombou de joelhos. Também me aproximei e ele me disse: “Não gosto de arma de fogo. Prefiro o podão”. E limpou o sangue da lâmina do podão na roupa do morto. Mas isto não me impede de levar o fuzil do cara”, eu falei, pois vinha apenas armado com o revólver. Também tirei a munição que o desgraçado tinha nos bolsos, enquanto ele o virava, para ver se encontrava algum alimento. Pendurado nas costas do morto havia um embornal, com uma garrafa dágua e alguma coisa para comer. Comemos ali mesmo e eu comentei: “Se este cara veio até aqui é porque por perto deve haver alguma casa com outros sujeitos e comida”. Ele concordou, e prosseguimos em frente, pelo mato, até que vimos uma casa, com a chaminé deitando fumaça. Avançamos cautelosamente. A porta da casa estava aberta, e entrei atirando no que via, com o fuzil, enquanto, com o podão, ele degolava mais um. Eram três ao todo. Revistamos a casa, encontramos alimento, e enfiamos tudo em dois sacos. Também arrebanhei as armas que ali estavam.
Voltamos pelo mato, e não foi fácil, com a carga que levávamos. Ao entardecer, já enxergávamos o nosso abrigo, onde estavam os companheiros. Assobiei umas cinco vezes, conforme o combinado, até que tive resposta, com assobios semelhantes.
Então fomos chegando com a carga, e foi uma festa.
Pude dormir um dia inteiro.
Quando já estava descansado, o Chefe nos disse: “Vamos continuar. A guerra ainda não acabou.
Besta de guerra, que não acaba nunca.

Anníbal Augusto Gama

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